Confira a reportagem na íntegra:
“Em 2019, o “Profissão Repórter” mostrou a história de André Padilha em Fernandópolis, São Paulo. Autista severo, ele se machucava muito quando passava por crises, e viveu acorrentado por 15 anos. Depois que a reportagem foi ao ar, duas clínicas particulares se uniram e formaram uma equipe multidisciplinar especialmente para tratar de André, que hoje tem uma rotina completamente diferente.
Na terapia ocupacional, ele aprendeu a fazer desenhos, colagem e brincar com bola. A equoterapia, método terapêutico que usa a montaria em cavalos para auxiliar no tratamento, deixava o jovem mais calmo. Durante um ano e meio, as voluntárias arcaram com todos os custos das terapias e da nova medicação. Um total de R$ 20 mil por mês. Com o agravamento da pandemia, a equipe ficou sem renda.
André está sem tratamento há seis meses, e voltou a ter medo do contato com os cavalos. “Ele está recuando porque faz tempo que não está fazendo, então ele começa a recuar”, explica a terapeuta Terezinha Santana.
Graças à terapia multidisciplinar, André aprendeu tarefas simples do dia a dia como lavar a louça, varrer a casa e escovar os dentes sozinho. Mas com a quebra na rotina de exercícios, ele já não executa tão bem as tarefas como antes.
“Ele fica mais agitado porque está sem o tratamento. Cada dia está regredindo um pouco mais. Foi uma luta para chegar até aqui. Não foi da noite para o dia para retirar as correntes nem para desenvolver essas habilidades. Se ele para de ter um acompanhamento, infelizmente é desesperador pensar que a tendência é voltar a acorrentá-lo”, diz a terapeuta.
A mãe de André pediu judicialmente para que o poder público do município de Fernandópolis arque com os custos do tratamento. Pela lei, quando a rede pública não consegue oferecer um tratamento, ela deve arcar com esses custos na rede privada. Em fevereiro de 2021, o Tribunal de de Justiça de São Paulo negou o pedido e afirmou que não há provas da ineficácia do tratamento que é oferecido pelo CAPs desde 2005. E que a família não conseguiu comprovar a necessidade de um outro tratamento pela rede privada.
No entanto, a Prefeitura de Fernandópolis disse que vai ampliar os atendimentos já oferecidos a autistas por uma Clínica Integrada, que funciona dentro de uma faculdade desde 2005.
“Infelizmente, por causa da pandemia, a gente teve que diminuir o contexto dos atendimentos. Consequentemente, o André, por ser um caso mais grave, também tivemos que tomar cuidados com relação à saúde dele“, diz Rádila Salles, psicóloga da Fundação Educacional de Fernandópolis.”