Médicos defendem fechar igrejas e vetar futebol em São Paulo
Médicos apontam prioridade das escolas, mas veem que avanço do vírus pode exigir a suspensão de aulas presenciais.
Com o agravamento da pandemia e consecutivos recordes de internação pela covid-19 em São Paulo, a gestão João Doria (PSDB) avalia endurecer as medidas no Estado. O governo estuda criar uma fase roxa no plano paulista de combate ao coronavírus – com mais restrições que a faixa atual, a vermelha. Especialistas veem urgência em reduzir a circulação de pessoas nas ruas e frear o avanço da doença. Para isso, defendem fechar igrejas, suspender campeonatos de futebol e reduzir a lotação no transporte público. Além disso, pedem reforço na fiscalização para coibir a abertura irregular do comércio, festas clandestinas e aglomerações.
Para Gonzalo Vecina, médico sanitarista e colunista do Estadão, há pressa para reduzir o número de infecções. “O exemplo que temos mais recente é o de Araraquara (interior paulista), que tomou uma decisão bastante difícil e apertada. Até os supermercados foram fechados, só funcionavam farmácias e o restante em deliverys. Essa é a única alternativa de se conseguir diminuir o número de casos”, diz ele, ex-secretário municipal de Saúde da capital paulista. De testes feitos na rede pública da cidade nesta quarta, 20% tiveram resultado positivo para a covid. Em 16 de fevereiro, quando o lockdown estava no 2º dia em Araraquara, o índice de diagnósticos confirmados atingia 53%.
Vecina destaca ainda a prioridade da educação, mas acredita que é o momento de também suspender as aulas presenciais. “As escolas em si também não são um problema tão relevante, porque o número de casos é pequeno”, diz. “Mas, neste momento de lockdown, temos de parar tudo. Não são só crianças, são adultos que levam crianças, o transporte coletivo”, acrescenta o médico.
“Existe a necessidade, sim, de o governo de São Paulo criar uma nova fase, a falada fase roxa. Mas não adianta criar se não tiver coragem de implementar”, afirma Natalia Pasternak, doutora em microbiologia pela USP e presidente do Instituto Questão de Ciência. Para ela, o fechamento deve incluir igrejas, escolas e limitações de mobilidade. “O ideal seria um lockdown bastante restrito de 15 dias, seguido por medidas menos restritivas de longa duração”, diz ela.
“As escolas devem, sim, ser prioridade. Quando a gente diz fechar escola, estamos dizendo que é uma emergência, 15 dias, e que elas sejam as primeiras a ser reabertas. Mas, quando for reabrir, é para reabrir escolas, não shopping, academia, bar e restaurante”, aponta Natalia. Educadores têm apontado a necessidade de priorizar a manutenção de aulas presenciais após o longo período de colégios fechados em 2020. Entre os riscos, estão os prejuízos de aprendizagem e socioemocionais. Em países da Europa, como Reino Unido e França, os governos tentaram manter escolas abertas mesmo em fases mais rígidas do lockdown.
A médica defende priorizar a educação, mas ressalta que a piora crescente do cenário pode levar à necessidade de fechar colégios também. “Não se pode comparar escolas com templos religiosos, shoppings centers, com lojas de roupa”, pondera Mônica. “Penso que a escola tem uma discussão à parte, mas acho que talvez tenha que chegar, sim, a fechar”, acrescenta ela.
O médico e pesquisador da USP Márcio Bittencourt defende ainda a necessidade de oferta de máscaras de maior proteção aos trabalhadores que precisam se expor mais. Além disso, de acordo com ele, é a hora de fechar, de fato, todos os serviços não essenciais, reduzir a lotação do trasporte público e em todos os outros ambientes fechados. “Sem a menor dúvida, as medidas de contenção estão sendo insuficientes”, diz. “Se não intensificarmos as medidas de contenção da transmissão interpessoal é simplesmente impossível que controlemos a pandemia.”
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