Ao autorizar doação de órgãos, mãe diz que jovem morto ao ser atropelado vai salvar vidas: ‘ele ficaria feliz’

Morte encefálica de Sadraque Muni Martins foi constatada no dia 9 deste mês e a doação feita no dia seguinte, no Hospital de Base de Rio Preto (SP)

Se inspirando na compaixão e bondade do jovem de 24 anos que morreu atropelado por um carro em Votuporanga (SP) que a mãe autorizou a doação de órgãos. A morte encefálica de Sadraque Muni Martins foi constatada no dia 9 deste mês e a doação feita já no dia seguinte.

Segundo a mãe do rapaz, Sônia Aparecida Muni, o filho sempre buscou ajudar outras pessoas, até mesmo desconhecidas. Mesmo diante da dor, a família optou por autorizar a doação porque acredita que Sadraque ficaria feliz com a atitude. “Ele sempre ajudou os outros, ele era bom demais. Foi quando a família viu a importância de doar os órgãos, porque com certeza ele ficaria feliz com essa atitude, justamente pelo coração que ele tinha”, ressalta a mãe.

O bom coração de Sadraque agora “mora” em outro corpo. A operação mobilizou diversos profissionais do Hospital de Base de São José do Rio Preto (SP), para onde o jovem foi transferido devido à gravidade dos ferimentos, após ser encaminhado à Santa Casa de Votuporanga.

A prima de Sadraque também concedeu entrevista à reportagem. Segundo ela, que preferiu não ser identificada, o ato foi pensado como uma possibilidade de salvar uma vida, além de uma forma de amenizar o luto. “Trouxe um pouco de conforto para a família, pelo fato de ter ajudado outras vidas a serem salvas. Em meio a tanta tristeza, fomos bem conscientes e esperamos que outras pessoas não tenham dúvida alguma de que isso fez outras famílias felizes”, pontua a prima.

Sônia Aparecida Muni, mãe de jovem que morreu atropelado em Votuporanga (SP) — Foto: Sônia Aparecida Muni/Arquivo pessoal

Sônia Aparecida Muni, mãe de jovem que morreu atropelado em Votuporanga (SP) — Foto: Sônia Aparecida Muni/Arquivo pessoal

Agora, a família de Sadraque aguarda o andamento das investigações, para que o motorista do carro que atropelou o jovem, na Avenida João Gonçalves Leite no início do mês, seja indiciado por omissão de socorro.

De acordo com o advogado de defesa da família, Hery Kattwinkel, a polícia teve acesso às imagens de câmeras de segurança que comprovam que, após o atropelamento, o motorista desceu do carro, viu Sadraque caído na avenida e, mesmo assim, fugiu do local. “A gente até acredita que se tivesse tido o socorro na hora, o Sadraque pudesse reverter o quadro. O motorista entrou no carro e fugiu”, lamenta a prima.

Captação dos órgãos

Depois de autorizada a doação, os órgãos captados foram: coração – levado para a capital -, fígado – para Sorocaba (SP)-, além de rins e córneas que, até a última atualização da reportagem, aguardavam compatibilidade de receptores. A cirurgia para retirada dos órgãos levou aproximadamente cinco horas.

Entre a retirada dos órgãos e o transplante, não podem se passar mais de quatro horas. Por isso, o coração viajou do hospital dentro de um avião, de modelo turboélice, para São Paulo (SP). A viagem de quase 500 quilômetros durou apenas 54 minutos.

Ao g1, o médico coordenador da Organização de Procura de Órgãos (OPO) do HB, João Fernando Picollo informou que, assim como no caso de Sadraque, o ato da doação representa mais do que apenas a possibilidade de salvar uma vida. “É comprovado cientificamente que doação tanto faz bem para o receptor quanto para a família do doador. É uma forma de tirar algo ‘positivo’ da dor, porque a família tem consciência de que ajudou a salvar uma vida. Com esse ato de altruísmo, elas vivenciam o luto de uma forma mais amena”, reforça o médico.

O médico ainda destacou que a equipe, no geral, vive um misto de emoções quando aparecem órgãos saudáveis disponíveis para o transplante. Isso porque, ao mesmo tempo em que nutre empatia pela família do doador, também celebra o começo de uma nova vida proporcionada ao receptor.

“É muito emocionante o hospital ligar avisando que a família do paciente autorizou a doação e que temos um órgão compatível disponível para o transplante. A cirurgia de retirada do órgão só começa quando a cirurgia do receptor também se inicia. Então, temos que ser ágeis”, enfatiza o médico.

Doações em números

O OPO do HB abrange 16 instituições de saúde no noroeste paulista, que englobam 142 municípios, com uma população superior a 2,3 milhões de habitantes.

Todo o trabalho de conscientização até a autorização da doação é feito pela equipe do hospital, que conta, segundo João, com psicólogos que atuam diretamente no processo de apoiar e acolher os familiares nas etapas, mesmo após o aval para a doação.

O reflexo de todo este trabalho é percebido nos números. Em São José do Rio Preto, o médico ressalta que a taxa de aceitação entre as famílias de potenciais doadores chega a 75%. Já no noroeste paulista o número chega a 55%.

O número alto é visto por ele como algo positivo, já que há uma grande lista de espera para o recebimento dos órgãos. No caso dos pacientes à espera de um coração, quase sempre são casos de internação.

Pelo número de transplantes de coração no país como um todo ainda estar aquém da necessidade, é de suma importância ampliar a “cesta” de doadores, assim como implementar e qualificar as comissões responsáveis pela captação de órgãos. FONTE G1

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