Osteoporose: causas, sintomas, diagnóstico, prevenção e tratamento

No Dia Mundial de Combate à Osteoporose, médicos respondem às principais perguntas sobre a doença. Que não tem cura, mas pode ser controlada com medicamentos e hábitos saudáveis.

Dados da Federação Internacional da Osteoporose (IOF) apontam que a doença, caracterizada pela perda da massa óssea, acomete 200 milhões de mulheres no mundo. No Brasil, segundo o Ministério da Saúde, o problema afeta 10 milhões de pessoas, especialmente mulheres na pós-menopausa e idosos, e é a principal causa de fraturas na população acima de 50 anos. Ao promover mudanças na arquitetura do osso, a osteoporose compromete a força e o equilíbrio, causando essas complicações. Estimativas da IOF apontam que, no mundo, são registradas 8,9 milhões de fraturas osteoporóticas anualmente, o que representa uma média de um caso a cada três segundos. Para alertar a população sobre a doença, 20 de outubro é o Dia Mundial de Combate à Osteoporose.

Apesar de ter grande incidência no mundo, esse é um problema que ainda gera muitas dúvidas. A começar pelo fato de que não se trata de uma doença que afeta apenas as mulheres, embora elas sejam a maioria das atingidas. Estudos no Brasil dão conta de que a osteoporose acomete 10% a 15% dos homens com mais de 65 anos. No caso deles, as complicações das fraturas são até mais graves: entre o sexo masculino, segundo a IOF, a mortalidade decorrente desses agravos é maior. Aproveitando a ocasião do Dia Mundial de Combate à Osteoporose, conversamos com médicos especialistas no assunto para responder as questões mais recorrentes quando se trata dessa doença, listadas adiante.

Vice-presidente da Comissão Nacional Especializada em Osteoporose da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), Ben-Hur Albergaria faz um alerta introdutório. O ginecologista comenta que essa doença esquelética que compromete a resistência do osso é um mal silencioso. Embora seja a enfermidade óssea mais comum entre a população, a osteoporose acontece sem que se perceba por muito anos.

– De repente, a pessoa é surpreendida com a primeira fratura. Ela não se percebe doente e essa é uma dificuldade. Uma em cada quatro pessoas que sofrem fraturas no fêmur morrem no primeiro ano e apenas uma volta a ficar completamente independente como antes. Mas é possível identificar esses riscos precocemente e oferecer recursos de tratamento para mudar os números que fazem da osteoporose um problema de saúde pública no mundo todo – informa Albergaria, acrescentando que menos de 30% das primeiras fraturas têm tratamento adequado e que 20% a 30% dos pacientes apresentam o risco de uma segunda fratura nos dois anos seguintes.

O vice-presidente da Sociedade Paulista de Reumatologia e especialista em osteoporose Marcelo Pinheiro comenta que muitas vezes as pessoas responsabilizam as quedas pelas fraturas. No entanto, é preciso reconhecê-las como um sinal da doença e da fragilidade que ela causa no osso.

– É preciso acabar com esse mito de que a fratura é causada pela queda e não pela doença, que provocou a fragilidade do osso. Quando a pessoa acha isso, não previne a ocorrência da segunda fratura com medicamentos, cujos ganhos são otimizados com a alimentação e exercícios físicos – observa o médico reumatologista.

Nesse contexto, o presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Regional São Paulo (SBEM-SP), Sergio Maeda, reforça que os cuidados com a alimentação e uma rotina de exercícios físicos são fundamentais para quem já teve o diagnóstico de osteoporose e faz tratamento medicamentoso. O endocrinologista antecipa ainda que é possível adotar comportamentos saudáveis que ajudam na prevenção problema.

– É preciso uma dieta rica em alimentos com cálcio, como laticínios, e a manutenção de níveis adequados de vitamina D, seja pela exposição solar ou com suplementos. Em termos de exercício físico, o que se sabe é que, quando bem orientados, aqueles que promovem impacto ajudam a melhorar a saúde do osso – completa, destacando a importância da atenção a pisos escorregadios e molhados, remoção de objetos soltos pelo chão e adoção medidas para deixar o banheiro mais seguro para idosos, como instalação de barras, para evitar quedas.

A seguir listamos as questões mais recorrentes quando o assunto é osteoporose, que respondemos com o apoio dos médicos consultados. Confira!

Quais são as causas da osteoporose?

Um dos principais fatores de risco é o histórico familiar. Quando há casos de fraturas na bacia ou no fêmur, por exemplo, entre pai e mãe, as chances da doença podem ser aumentadas.

No entanto, hábitos como tabagismo e consumo de álcool são muito tóxicos para a célula óssea. O uso de medicamentos com cortisona, administrados para tratamento de uma variedade de doenças; sedentarismo e baixo peso, com índice de massa corporal inferior a 18,5, são outros fatores de risco para a osteoporose.

Há ainda causas secundárias que podem prejudicar a saúde óssea. É o caso de quadros de doenças digestivas, pulmonares, hematológicas e renais. A presença de cálculos nos rins, por exemplo, está associada à eliminação crônica de cálcio pela urina. A quimioterapia também pode contribuir para a perda de massa óssea.

Fatores de risco:

  • Predisposição genética;
  • Tabagismo;
  • Consumo de álcool;
  • Baixo peso e índice de massa corporal;
  • Uso de corticoides;
  • Outras doenças, como digestivas, pulmonares, hematológicas e renais.

Beber café aumenta os riscos de osteoporose?

O café pode comprometer a absorção de cálcio. Portanto, ao consumi-lo com leite, não abuse na quantidade, para não perder o benefício da ingestão desse nutriente.

Outra recomendação é evitar tomar mais do que quatro expressos diariamente ou exagerar na ingestão de bebidas em geral que contenham cafeína, como chá preto. Diretamente, não serão responsáveis por causar a osteoporose. Contudo, dados demonstram que, em excesso, podem prejudicar a absorção de cálcio e a massa óssea. Por isso, faça esse consumo sem exageros.

Por que a osteoporose é mais comum entre as mulheres?

A privação de hormônio acontece de forma muito rápida após a menopausa. Por volta dos 50 anos, as mulheres param de menstruar e perdem a proteção estrogênica. Calcula-se que uma em cada três desenvolve osteoporose quando entra nessa fase da vida. Trata-se de um problema muito recorrente entre elas a partir dos 50 anos. Mas não quer dizer que seja uma doença feminina. Estima-se que a osteoporose acometa um em cada cinco homens a partir dos 60 ou 70 anos. Sem contar que o quadro da doença é mais grave entre eles, uma vez que a mortalidade decorrente de fraturas é maior na população masculina. No caso daquelas decorrentes de fraturas no fêmur, o índice dobra em relação às mortes entre as mulheres.

Vale acrescentar que, em geral, os homens também adotam mais comportamentos nocivos para a saúde óssea, como consumo de álcool e tabagismo. Outro fator que deve ser considerado é que, ao contrário da menopausa, que é bem marcada pelo fim da menstruação, a andropausa não apresenta sinais tão evidentes. Entre eles, essa fase da vida é marcada por indícios como diminuição da libido, consequência que muitas vezes têm receio de encarar. Fora que os homens, geralmente, não mantêm acompanhamento médico regular como fazem as mulheres durante os check-ups com ginecologista, médico que tem posição estratégica para detectar a osteoporose. Dessa maneira, acabam tendo diagnóstico mais tardio. Além disso, os homens apresentam uma tendência maior a abandonar o tratamento da doença, aumentando as complicações e a mortalidade.

A osteoporose provoca dores?

Em geral, as pessoas associam doenças a dores e sintomas. Entretanto, a osteoporose é o que se chama de uma doença silenciosa, ou seja, assintomática. Na maioria das vezes, é diagnosticada após uma fratura por baixo impacto, como quando a pessoa cai da própria altura. Mesmo nos casos de fraturas mínimas na coluna, a doença não apresenta sintomas.

De tal forma, mulheres na pós-menopausa, homens a partir dos 60 anos ou pessoas que estejam dentro do grupo de risco da doença, ou seja, têm predisposição genética, são tabagistas, consomem bebidas alcoólicas, usam corticoides e têm baixo peso e massa muscular, por exemplo, devem realizar consulta para detectar a doença o quanto antes.

Qual médico procurar para diagnóstico e tratamento?

A mulher pode contar com o seu ginecologista. No geral, especialidades como reumatologista, endocrinologista, geriatra e fisiatra também são indicadas para esse diagnóstico e tratamento. Médicos ortopedistas fazem acompanhamento dos casos quando há fraturas e cirurgias.

Médicos que podem diagnosticar e tratar a doença:

  • Reumatologista;
  • Endocrinologista;
  • Geriatra;
  • Fisiatra;
  • Ginecologista.

Como é feito o diagnóstico da doença?

O diagnóstico é feito por meio da densitometria óssea. Esse exame deve ser realizado para monitorar a massa óssea quando as mulheres entram na menopausa, por volta dos 50 anos, e entre os homens a partir dos 70 anos. Mas isso quando se considera a faixa de idade. Caso a pessoa apresente fatores de risco, o médico pode orientar a realização desse exame antes.

Atualmente, os médicos contam o apoio de ferramenta conhecida como Frax, sigla do termo em inglês Fracture Risk Assessment Tool, ou ferramenta de avaliação de risco de fratura. Ao preencher o questionário sobre histórico de pacientes a partir de 40 anos, podem conhecer a probabilidade dessas consequências ao longo dos próximos dez anos. Dependendo do resultado, o médico pode estratificar o risco, avaliando se a pessoa deve realizar a densitometria óssea ou ter um acompanhamento periódico. A ferramenta Frax está disponível no site da Associação Brasileira de Avaliação Óssea e Osteometabolismo (Abrasso).

Além disso, durante o exame físico, o médico também pode detectar quadros de cifose, popularmente chamadas de corcunda, e diminuição da estatura do paciente. Quando há uma redução da maior altura da vida para a atual que seja superior a 4 cm, também é preciso investigar. Nesses casos, pode haver fraturas vertebrais que caracterizam um quadro de osteoporose.

Há outros exames indicados para detecção?

O diagnóstico é feito por meio da densitometria óssea. Mas esse exame não indica a causa da redução da densidade. Portanto, o médico pode demandar a realização de exames laboratoriais, como de sangue e urina, para identificar doenças que também possam causar essa perda. Calcula-se que 20% dos casos de redução da massa óssea estejam associados a outras doenças, como problemas renais e hematológicos. Assim sendo, o médico precisa afastar outras causas para poder indicar o tratamento e ter a certeza de que está atuando sobre a osteoporose. Ademais, podem ser realizadas radiografias para detecção de fraturas assintomáticas na coluna.

Qual é a relação entre osteopenia e osteoporose?

A osteopenia pode indicar um quadro pré-osteoporose. Por isso, deve ser monitorada e investigada pelo médico. Em muitos casos, não causa fraturas. Porém, sua gradação pode, sim, levar à osteoporose. A partir dos 30 anos, é normal ter uma perda óssea de 10% em relação à fase adulta jovem. Quando esse percentual fica entre 10% e 25%, pode indicar um quadro de osteopenia. Já se a perda é superior a 25%, trata-se de osteoporose.

É possível prevenir a osteoporose?

Não há como mudar o fator hereditário, que responde por 60% a 80% dos casos. Mas é possível reduzir as chances de ocorrência da doença ao focar naqueles fatores modificáveis e adotar comportamentos como:

  • Dieta rica em cálcio;
  • Manutenção dos níveis de vitamina D com exposição ao sol ou uso de suplementação;
  • Abandono do hábito de fumar;
  • Prática regular de exercícios físicos,
  • Diminuição do consumo de álcool. Em relação à ingestão de bebidas alcoólicas, para evitar riscos para sua estrutura óssea, jamais faça uso diário e, quando for participar de algum evento social, no final de semana, por exemplo, não passe de três doses.

Como deve ser a alimentação para prevenção e tratamento?

É importante reforçar o consumo de cálcio, que é o principal mineral estrutural do osso. A partir dos 50 anos, deve-se ingerir cerca de 1,2 mil mg desse nutriente diariamente. Porém, em média, o brasileiro consome aproximadamente 400 mg diários.

Leite e derivados são as principais fontes de cálcio, tanto por estar presente em grandes quantidades nesses alimentos como também por serem mais biodisponíveis, ou seja, o nutriente é mais bem absorvido pelo organismo. No caso de leite desnatado ou de queijo branco, vale reforçar que contam com a mesma quantidade de cálcio dos produtos integrais. Nesses alimentos, há retirada apenas da gordura, não do nutriente. Vegetais verdes escuros, como agrião, couve, espinafre e brócolis, também são ricos em cálcio. Contudo, sua biodisponibilidade é um pouco menor.

Confira a quantidade aproximada de cálcio presente em alguns alimentos:

  • Um copo de leite ou iogurte: 300 mg;
  • Uma fatia de queijo: entre 150 e 200 mg;
  • Salada com vegetais verdes escuros: até 400 mg, dependendo da quantidade e ingredientes usados.

A vitamina D também é importante. Esse nutriente é necessário para promover a absorção e deposição do cálcio no osso. Essa combinação entre consumo de cálcio e níveis adequados de vitamina D para adultos e idosos (entre 600 e 800 unidades internacionais) é essencial inclusive para que os medicamentos para tratamento da osteoporose tenham efeito máximo. E o único jeito de garantir a absorção de vitamina D pelo organismo é pegando um pouco de sol diariamente.

É preciso ainda garantir uma ingestão adequada de proteínas. Com o avanço da idade, há o risco de perda de massa muscular, que pode agravar o quadro de pessoas com osteoporose.

Nutrientes importantes para prevenção e tratamento da osteoporose:

  • Cálcio;
  • Vitamina D;
  • Proteína.

Como os exercícios contribuem para a prevenção e o tratamento?

É importante manter uma rotina que envolva atividades que promovam uma melhora de capacidade cardiovascular, por meio de exercícios aeróbicos, de força e de flexibilidade. Contudo, exercícios de força, como aqueles realizados na musculação ou no pilates, são essenciais para atuar contra a osteoporose. Isso porque promovem o fortalecimento e o ganho de massa muscular, evitando os riscos de sarcopenia, e também contribuem para melhorar a densidade mineral óssea.

Além de ter impacto direto na saúde do osso, a preservação da massa muscular também ajuda na prevenção de quedas, uma vez que favorece o equilíbrio, a postura e até o reflexo da pessoa. Nesse aspecto, é importante incluir outras atividades que aumentem essa consciência corporal. Pilates, tai chi chuan e yoga também ajudam a melhorar o equilíbrio e evitar quedas.

Para ter a recomendação do treino mais adequado, pessoas jovens e adultas devem consultar profissional de Educação Física. Já aquelas que apresentam problemas de saúde devem conversar com o médico que faz o seu acompanhamento. Dependendo do quadro, incluindo de pacientes com osteoporose, pode ser indicado realizar os exercícios com o apoio de um fisioterapeuta.

A osteoporose tem cura?

Cura, não. Mas como outras doenças crônicas, a exemplo de diabetes e pressão alta, é possível mantê-la sob controle. No caso da osteoporose, isso significa, especialmente, evitar o risco de fraturas. Para tanto, há uma variedade de medicamentos eficazes. As medicações atuam para interromper a perda mineral do osso e regular a sua microarquitetura, evitando a fragilidade que leva a fraturas. Não é possível reverter completamente os danos e fazer o osso voltar ao seu estado original. Mas, quanto antes detectada a doença, maiores as chances de evitar a primeira fratura e, no caso de quem já teve esse agravo e tem risco iminente para nova ocorrência, reduzir as chances do segundo evento.

As medicações são administradas de forma semanal, mensal, semestral ou anual, o que contribui garantir a sua adesão. Além disso, em alguns momentos, o médico que faz o acompanhamento pode recomendar uma pausa de cerca de dois anos nas prescrições, dependendo da evolução do caso.

Os medicamentos para tratar a osteoporose são seguros?

Sim, além de eficazes, também são seguros. É um mito que o tratamento da osteoporose provoca a perda dentária, por exemplo. A necrose dos dentes pode ser decorrente de outros problemas de saúde, como câncer. Os medicamentos podem ser administrados em pacientes com quadro de metástase, porém as doses são muito altas.

FONTE: Informações | G1/EU Atleta

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