Rodolfo de Carvalho conta que a avó Neide, 73 anos, morreu no dia 10 de fevereiro. Seis dias depois, a família se despediu da filha dela, Silvana, de 54 anos; o outro filho, Deividi, morreu um dia depois, nesta quarta-feira (17).
Em um intervalo de apenas uma semana, uma família de Birigui, no interior de São Paulo, precisou lidar com a dor de enterrar três parentes por causa da Covid-19. Uma mãe e dois filhos morreram com a doença entre os dias 10 e 17 de fevereiro.
Ao G1, o auxiliar comercial Rodolfo Rodrigues Passeli de Carvalho, de 28 anos, contou que a avó Neide Passeli, de 73 anos, foi a primeira a não resistir às complicações da doença. Neide morreu no dia 10 de fevereiro.
Seis dias depois, na terça-feira (16), a filha dela, Silvana Passeli, de 54, morreu de Covid-19. O irmão de Silvana, Deividi Cheregatto, de 33 anos, foi a óbito um dia após a morte da irmã.
“Já chorei tanto que não consigo mais. Estou revoltado. É horrível passar por isso”, desabafou Rodolfo por telefone.
Três pessoas da mesma família morrem por Covid-19 em uma semana em Birigui
Neide morreu na casa onde morava. Ela possuía obesidade e não conseguia se locomover. O exame comprovando a infecção pelo vírus foi feito depois de a morte ser registrada. Isso porque, além de a idosa não conseguir se locomover, ela sentiu apenas sintomas leves da doença.
“Minha avó faleceu por volta das 10h. Tentamos médicos para atestar o óbito, mas não conseguimos, porque ninguém estava disponível. O corpo ficou mais ou menos por oito horas dentro de casa, com a família tendo contato”, contou.
“A Vigilância Sanitária veio até em casa e conseguiu um médico. Quando fomos colocar o corpo em um saco da funerária, o zíper estourou. Eu e meu primo tivemos de enrolar o corpo em um lençol e arrastar até a urna que estava na sala. Esse foi o drama de uma senhora de 73 anos”, complementou.
Um dia antes da morte de Neide, a tia de Rodolfo foi internada em um pronto-socorro e, posteriormente, encaminhada para um leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
Como também era obesa e possuía uma doença no pulmão, os médicos optaram por não entubar Silvana.
“Eles decidiram não fazer o procedimento por conta do risco. Minha tia esperou três dias para ser levada para o hospital, mas já era tarde. Ela não resistiu e também morreu”, disse Rodolfo.
“Meu tio pesava 180 quilos. Tive que pagar um exame de tomografia, pois a máquina suporta até 150 quilos. Tentamos interná-lo no sábado (13). Conseguimos uma vaga somente na segunda-feira (15), mas também já era tarde”, afirmou.
“Se tivessem leitos disponíveis, meus parentes poderiam ter sobrevivido. Eles tinham problemas, mas outras pessoas sobreviveram. Um dia para quem está com Covid-19 é muita coisa. Pode fazer a diferença”, complementou.
Ao G1, Rodolfo ainda relatou que fez dívidas para pagar os medicamentos e enterrar os três familiares em um cemitério de Birigui.
“Fico vendo essa briga política, enquanto a família pobre está morrendo. Estava preocupado em enterrar meu tio e tinha uma chácara ‘bombando’ na frente da minha casa. As pessoas estão preocupadas em festejar. Espero que ninguém passe por isso”, disse.
A Secretaria da Saúde disse que Deividi foi recebido no pronto-socorro na tarde do dia 13 e foi colocado em uma sala da emergência.
No dia seguinte, foi inserida no Cross a solicitação de internação em leito de UTI. Contudo, ainda segundo a secretaria, até o dia 15 todas as solicitações de vagas foram negadas por superlotação nas unidades de referência de Birigui.
Na tarde do dia 15, foi disponibilizado um leito na UTI da Santa Casa, e Deividi foi internado, mas morreu no dia 17.