Em paralelo, durante uma coletiva em Cabul, no Afeganistão, o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, afirmou que a aliança apoia o acordo e está preparada para “ajustar e reduzir” sua presença no país. No entanto, ele também frisou que, se a situação na região piorar, os aliados podem voltar a aumentar sua atuação.
“A paz é longa e dura e precisamos nos preparar para retrocessos e dificuldades”, declarou Stoltenberg.
Também participaram da coletiva o presidente afegão, Ashraf Ghani, e o secretário de Defesa dos Estados Unidos, Mark Esper.
“Esse é só o começo, e o caminho à frente não será fácil”, disse Esper.
Ele afirmou que os EUA e seus aliados estão comprometidos com o relacionamento com as forças de segurança do Afeganistão, e, ainda, que “o acordo com o Talibã abre caminho para negociações dentro do Afeganistão de forma que um cessar-fogo permanente e abrangente seja alcançado”, disse.
As forças armadas dos EUA estão no Afeganistão desde 7 de outubro de 2001, quando invadiram o país em resposta aos ataques de 11 de setembro.
Naquela época, o Talibã, grupo islâmico radical então liderado por Mohammed Omar, controlava 90% do Afeganistão, embora nunca tenha sido reconhecido como governo pela ONU. Os únicos países que reconheciam a autoridade dos talibãs eram Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Paquistão.
O presidente americano era então George W. Bush, que ordenou a invasão depois que o Talibã se recusou a entregar Osama bin Laden, arquiteto do atentado às Torres Gêmeas. O Paquistão e Arábia Saudita se tornaram aliados regionais dos EUA, e os talibãs passaram à luta armada contra os americanos e o novo governo afegão constituído.
Bin Laden morreu em 2011 em uma operação dos Estados Unidos no Paquistão.
Segundo a Organização das Nações Unidas (ONU), mais de 100 mil civis foram mortos ou feridos no conflito apenas na última década. Desde o início dos conflitos, os EUA gastaram cerca de US$ 1 trilhão (R$ 4,5 trilhões) em despesas militares no Afeganistão.
Processo difícil
Em sua campanha, Trump prometeu várias vezes trazer as tropas de volta aos EUA e acabar com as “guerras estúpidas”. Em comunicado divulgado na sexta-feira (28), Trump lembrou da promessa e afirmou que “estamos fazendo progresso substancial em relação a essa promessa”.
“Se o Talibã e o governo do Afeganistão cumprirem esses compromissos, teremos um caminho poderoso para terminar a guerra no Afeganistão e trazer nossas tropas para casa. Esses compromissos representam um passo importante para uma paz duradoura em um novo Afeganistão, livre da Al-Qaeda, do Estado Islâmico e de qualquer outro grupo terrorista que queira nos fazer mal. Por fim, caberá ao povo do Afeganistão construir seu futuro. Por isso, exortamos o povo afegão a aproveitar esta oportunidade de paz e um novo futuro para seu país”, disse o presidente americano.
Mas o processo passou por dias difíceis, com nove rodadas de negociações em Doha. Desde 2011, o Catar abriga líderes do Talibã que se mudaram para lá para discutir a paz no Afeganistão. Em 2013, o grupo abriu um escritório lá, que acabou sendo fechado no mesmo ano por causa de uma disputa envolvendo bandeiras, segundo a BBC.
Cinco anos depois, em dezembro de 2018, os talibãs anunciaram que se encontrariam com autoridades americanas para tentar achar uma “rota para a paz”. Mas o grupo continuou se recusando a ter conversas oficiais com o governo afegão, que classificou como “marionete” americana. A falta de confiança entre o governo e o Talibã alimenta o clima de crise política.
Em setembro do ano passado, então, os EUA anunciaram que retirariam 5,4 mil soldados do Afeganistão em 20 semanas (cerca de 5 meses), como parte de um trato acordado “em princípio” com os talibãs.
Dias depois, entretanto, Trump disse as conversas estavam “mortas”, depois que o grupo matou um soldado americano. Mas dentro de semanas ambos os lados retomaram as conversas nos bastidores, diz a BBC.
Mais recentemente, Washington declarou ter “preocupações” sobre o pleito que reelegeu Ashraf Ghani, no poder desde 2014.
Já do lado dos talibãs, o vice-comandante do grupo, Sirajuddin Haqqani, escreveu no “New York Times” na semana passada que “todo mundo está cansado da guerra”.
FONTE: Informações | g1.globo.com
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