Antes do início da pandemia, o mundo vivia uma época de mudanças. Agora, o que todos nós estamos presenciando é uma mudança de época. O coronavírus provocou uma grande crise global que atingiu diversos setores de economia mundial, sendo alguns mais afetados do que outros.
O desemprego é uma das consequências mais graves provocadas por essa crise. De acordo com um estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas, a estimativa é de que 12,6 milhões de pessoas percam seus empregos no Brasil, elevando a taxa de inativos dos atuais 11,6% para 23,8% da população. Segundo o relatório “A Economia nos Tempos da Covid-19” do Banco Mundial, divulgado em abril, o Produto Interno Bruto (PIB) da região – excluindo-se a Venezuela – terá retração de 4,6% este ano. No Brasil, o impacto será de 5% no PIB em 2020.
Diante de um cenário desafiador, quais seriam as possíveis perspectivas para a recuperação da economia no Brasil e na região pós-coronavírus?
Em um período de medo, incertezas e instabilidade, os cenários futuros parecem ser assustadores, diz o economista e professor universitário, Ary Ramos. Para ele, estes sentimentos incrementam os riscos e diminuem os investimentos, agravando ainda mais a crise. O especialista defende que uma das maneiras de evitar uma depressão econômica é que seja feito um pacto social entre os grandes setores da economia: governos, empresários e trabalhadores.
“A retomada da economia vai depender de muitos acordos dos grandes agentes econômicos, políticos e sociais”, avalia. Neste acordo, o governo federal deverá desempenhar um papel de organizador, estruturador e estimulador da economia. “E, para que isto se efetive, faz-se necessário uma força política e consistente”, diz Ramos.
O desemprego levará a uma diminuição na renda familiar, o que implica diretamente em uma mudança nos hábitos de consumo, pontua o consultor empresarial, Valdecir Buosi. Ele afirma que “as famílias continuarão a consumir os serviços prioritários, como alimentação, saúde, moradia e educação. Somente após satisfazerem essas necessidades básicas, e com uma certa folga no orçamento, é que consumirão outros tipos de produtos”.
É justamente essa mudança no hábito das pessoas que fará com que alguns setores consigam se recuperar de maneira mais rápida do que outros, aponta o diretor da Região Brasil do Grupo Tereos, Jacyr Costa Filho. Ele cita como exemplo os setores de alimentos, bens semiduráveis, higiene e limpeza e de saúde.
Já o segmento imobiliário e de bens duráveis como setor automobilístico, além de turismo e transporte aéreo, deverá ocorrer de maneira mais lenta. “A crise trouxe também algumas mudanças de paradigma. Vejo que as empresas aprenderam a trabalhar usando a comunicação digital e também viram que podem reduzir custos, como em viagens de negócios”, ressalta. O setor de alimentos, no qual a Tereos está inserida, deverá sofrer uma grande mudança. “A sanidade animal, vegetal e saúde humana serão cada vez mais observadas e atendidas pelas empresas e consumidores. Deveremos ver um comércio maior de produtos congelados que preservam a qualidade e a sanidade”, diz Filho.
Nos demais setores, as companhias precisarão traçar planos de contingência baseados em cenários e estimativas de duração e impacto em seus negócios, preservando o caixa, mas com um olhar sistêmico, diz o presidente e fundador da Shift, Marcelo Lorencin. Ele reforça que é fundamental olhar para a cadeia como um todo e buscar um equilíbrio, pois não adianta simplesmente ‘fechar as torneiras’, por completo, prejudicando fornecedores, clientes e colaboradores.
“Não é momento de decisões bruscas ou precipitadas, pois estarão fadadas ao erro. Os cenários mudam a todo o instante, e as decisões podem ser fatais ao negócio. Pensar na preservação do caixa, equilíbrio entre as partes, comunicação constante com todos seus stakeholders, eliminação de desperdício são vitais, mas também na busca de oportunidades e soluções que beneficiem você e a cadeia”, reforça.
Lorencin ainda acredita que o que ocorrerá na região será um reflexo da economia global e nacional, já que a atividade econômica de Rio Preto é bastante diversificada, mas fortemente embasada no comércio e serviços. “A retomada será diferente em cada uma das atividades, a área de serviços e comércio deve ter uma retomada gradual, dependendo do item e do bem de consumo, lembrando que totalmente dependente do nível de desemprego pós-crise”, diz.
Mudança de comportamento
Para se manterem no mercado, os empresários deverão observar as mudanças de comportamento da sociedade e ter capacidade para adaptar seus produtos e serviços para um novo tipo de necessidade. “Os empreendedores que entenderem as mudanças de comportamento do público conquistarão as melhores vantagens mais rapidamente. Monitorar o comportamento dos seus clientes e fazer os ajustes para atender da melhor forma possível essas novas necessidades será um grande diferencial”, acrescenta Buosi.
Muitas empresas já estão se adaptando e apostando na tecnologia da informação para dar continuidade aos seus serviços, desde recursos para possibilidade de trabalho remoto, até entrega de produtos através da baixa mobilidade. Mesmo setores tradicionais estão se reinventando, como no caso da saúde, com a telemedicina e agendamento de coleta de exames domiciliar. “Abrir mão às vezes de alguma receita imediata com busca na sobrevivência de seu cliente ou fornecedor, pode trazer resultados positivos, não só para a imagem como para seu faturamento atual e futuro”, entende o CEO da Shift.
Conseguir se adaptar é fundamental. Buosi relembra que o comportamento das famílias mudou com a implantação do plano Real. Antigamente, assim que a família recebia o seu salário, corria para fazer as compras no supermercado, pois a inflação era muito alta e o dinheiro perdia o valor de compra. “Com o advento do Plano Real, a inflação se estabilizou e as pessoas passaram a fazer compras menores e em mais vezes, principalmente nos últimos anos de crise econômica. Então, aconselho o empreendedor a observar o comportamento do seu público-alvo, e entregar o que este público deseja” diz.
“Apesar das previsões negativas, sempre há lugar para profissionais proativos, observadores e inovadores. Os consumidores serão mais exigentes e mais cautelosos, principalmente com a higiene e prevenção, essa será uma das mudanças. Portanto, o colaborador terá que agir além da expectativa do cliente”, finaliza Buosi.
Felipe Nunes – diarioweb.com.br