Natal é ponto de embarque de rota marítima do tráfico internacional de cocaína, diz PF 

Nesta semana, PF fez primeiras apreensões na história do Porto de Natal; foram encontradas 3,3 toneladas de cocaína em meio a frutas que iriam para a Holanda. “Falta de escâner de contêineres virou atrativo para os traficantes”, diz delegado. 

Após duas operações que apreenderam, nesta semana, 3,3 toneladas de cocaína no Porto de Natal, a PF informou que a capital potiguar é ponto de partida de uma rota do tráfico internacional de drogas. 

A Polícia Federal já sabia da existência de transporte pelo ar, caso em que o entorpecente é levado na bagagem ou preso ao corpo de passageiros de aviões. O trajeto marítimo é novidade, de acordo com Delegacia Regional de Investigação e Combate ao Crime Organizado da PF no Rio Grande do Norte. 

As duas apreensões feitas pela PF com a ajuda da Receita Federal foram as primeiras da história do terminal, aberto em 1932. Nunca uma operação policial havia descoberto drogas no Porto de Natal. Os 998 tabletes na terça-feira (12), e outros 1.832 no dia seguinte, totalizaram 1.832 pacotes de cocaína. Estava tudo escondido em meio a mangas e melões encaixotados em contêineres. O destino era o mesmo: o porto de Roterdã, na Holanda. 

“- A cocaína que sai de Natal segue principalmente para a Holanda, nos Países Baixos, e também vai muito para o porto de Antuérpia, na Bélgica”, afirmou o delegado Agostinho Cascardo. “- Destes dois portos, os navios também fazem paradas em outros portos da Europa. Basicamente, são Holanda e Bélgica as portas de entrada, podemos dizer.”  

O delegado revelou a origem da cocaína que passa por Natal antes de deixar o Brasil: “- Pelo ‘DNA’ da coca, sabemos que a droga vem da Colômbia, Bolívia ou Peru. E também sabemos que os traficantes usam Natal por dois motivos: pela posição geográfica, já que é a capital brasileira mais próxima da Europa, e porque o Porto de Natal não possui um escâner de contêineres, o que dificulta a fiscalização.” 

O delegado preferiu não traçar um percurso específico percorrido pela droga antes de chegar a Natal. 

Então, há quanto tempo que o Porto de Natal é utilizado como ponto de embarque para a cocaína? Ainda segundo Cascardo, a desconfiança sobre a nova rota surgiu faz pouco tempo. “- Tem poucos meses. Então, começamos a trabalhar em operações que agora estão dando resultado. O próximo passo é chegar aos donos da droga, é fazer novas operações e começar a prender os traficantes”, afirmou. 

Até que isso aconteça, a missão é intensificar a fiscalização no porto, antecipa o delegado. “- Como de Natal só parte um voo de cargas para a Europa, que é um voo semanal para a Alemanha, isso facilita o nosso trabalho no aeroporto”, explicou. 

Falta de escâner 

“- Os voos internacionais se tornam mais arriscados para os traficantes, por causa da pequena quantidade que cada passageiro tenta transportar. Por isso, os traficantes investiram no Porto de Natal, que é por onde a chance de escoar grandes quantidades é maior. E, como em Natal o porto não tem escâner, isso acabou sendo um atrativo a mais.” 

De acordo com o gerente de Infraestrutura e Suporte Operacional do Porto de Natal, Emerson Fernandes, a Cia Docas do Rio Grande do Norte tenta adquirir o equipamento desde 2007, quando foi criada a Secretaria dos Portos. Mas nunca houve orçamento suficiente para a compra. 

Fernandes diz que um escâner custa cerca de R$ 11 milhões. “- Agora, a partir dessa apreensão de cocaína, e com o empenho conjunto da Receita Federal, Polícia Federal, Marinha e Governo Federal, acredito que vamos conseguir viabilizar o escâner para aumentar a fiscalização no Porto de Natal”, declarou. 

Consórcio 

Mais que descobrir as rotas que os traficantes utilizam para levar a cocaína da América do Sul para a Europa, o trabalho da PF é identificar quem são os traficantes que montaram toda essa logística. 

“- Não estamos falando, necessariamente, destas facções internas que atuam dentro e fora dos presídios. Nada disso. São traficantes internacionais. O que existe é um consórcio de quadrilhas, criminosos que se unem para fazer o negócio cada vez mais lucrativo para eles”, descreveu o delegado. 

Como prova da existência de várias quadrilhas, o delegado contou que foram encontrados adesivos coloridos pregados nas embalagens da droga, como uma espécie de assinatura desses grupos. 

“- É como se cada adesivo indicasse uma propriedade diferente. A cor vermelha é para a quadrilha X. Já o adesivo azul vai para a quadrilha Y. E assim por diante. Eles usam essas marcações para não misturar as encomendas.” 

Cascardo, no entanto, não detalhou a forma como as drogas foram parar dentro dos contêineres. “- É o que estamos investigando. Pode ter sido na fazenda, ainda durante o carregamento, ou mesmo no caminho, até chegar no porto. E também pode ter sido feito dentro do próprio porto. Somente as investigações irão nos dar esta resposta.” 

Apreensões 

Nos últimos oito meses, a PF apreendeu mais de 5 toneladas de cocaína no Rio Grande do Norte. A maior parte (3,3 toneladas) foi encontrada no Porto de Natal. 

Houve ainda a descoberta, em novembro de 2018, de 1,3 toneladas da droga dentro de um galpão em Parnamirim, na região metropolitana da capital. 

Já no aeroporto de Natal, a última apreensão de cocaína aconteceu em 16 de março de 2017, com a descoberta de pouco mais de 3 quilos. 

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