Força-tarefa com mais de 600 policiais de SP tenta há quase uma semana encontrar e recapturar traficante André do Rap
Traficante, que estava preso desde setembro de 2019, foi solto no sábado (10) após ter habeas corpus concedido pelo ministro do STF Marco Aurélio Mello, que depois foi derrubado. Policiais civis de SP, SC e PR e agentes da PF também procuram pelo criminoso.
Uma força-tarefa formada por mais de 600 policiais civis dos três principais departamentos de segurança de São Paulo se mobiliza há quase uma semana para tentar encontrar e recapturar o traficante de drogas André Oliveira Macedo, o André do Rap, de 43 anos. Ele é um dos chefes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital.
O número total de agentes envolvidos não foi confirmado oficialmente pela Secretaria da Segurança Pública (SSP), mas, segundo agentes ouvidos pelo G1, supera os 600, anunciados nesta semana pelo governador João Doria (PSDB).
André do Rap está foragido desde o último sábado (10), quando saiu da prisão com um habeas corpus concedido pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello. Horas depois, no mesmo dia, o ministro Luiz Fux, presidente do STF, revogou a decisão liminar (provisória) do colega e determinou a prisão de André do Rap.
Desde então, agentes dos departamentos Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP), Estadual de Investigações Criminais (DEIC) e de Operações Policiais Especiais (DOPE) estão em diligências para tentar encontrar o traficante, que é um dos chefes da facção criminosa que atua dentro e fora dos presídios do Brasil, e é responsável por enviar cocaína da quadrilha para a Europa.
“O governo do estado de São Paulo determinou uma força-tarefa integrada por três setores da Polícia Civil. O Deic, o Dope e Homicídios. No total, quase 600 homens em busca de André do Rap”, disse Doria em outro vídeo divulgado por ele na terça-feira (13).
Segundo fontes da polícia, no entanto, o número de agentes envolvidos em São Paulo supera os 600 anunciados pelo governador. Isso porque outros policiais à paisana também estão atuando nas buscas a André do Rap. Mas por questões estratégicas, as delegacias e grupos que eles atuam não são divulgados.
Além de São Paulo, agentes da Polícia Federal (PF), e as polícias civis do Paraná e Santa Catarina procuram o traficante desde que ele voltou a ser considerado foragido da Justiça. O que aumenta mais ainda o número de policiais que estão participando das buscas ao criminoso. Esse número também não foi divulgado.
O governador paulista, que criticou a decisão de Mello em soltar o traficante e elogiou a de Fux em mandar prendê-lo novamente, voltou a falar sobre André do Rap na quarta-feira (14).
“Vamos trazê-lo de volta ao Brasil e colocá-lo numa prisão de segurança máxima”, chegou a falar Doria, demonstrando confiança na recaptura do traficante. “Olhem só o custo que isso está representando para o governo de São Paulo e para a polícia”.
Apesar de mencionar que a recaptura envolve gastos de dinheiro público, a Secretaria da Segurança não soube informar qual seria esse valor. Questionada pelo G1, a pasta informou, por meio de sua assessoria, que não é possível fazer um cálculo do montante de dinheiro empregado numa operação.
O Conselho de Segurança Pública do estado de São Paulo, que reúne as cúpulas da Polícia Civil e da Polícia Militar (PM), se reuniu na noite de quarta no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista na capital. Um dos assuntos tratados foi a fuga de André do Rap.
“Nós temos um extenso histórico a respeito da vida dele. O Brasil é muito extenso. Um ponto qualquer do país pode ser utilizado como esconderijo do criminoso. O nosso objetivo é encontrá-lo”, disse o delegado-geral da Polícia Civil, Ruy Ferraz Fontes. “E nós estamos dispensando uma atenção também extraordinária para encontrá-lo e colocá-lo de volta na cadeia”.
Listas de procurados
Devido à periculosidade do traficante, que pode ter fugido do Brasil e buscado refúgio em outro país, o nome, foto e dados dele foram incluídos na lista restrita da Interpol, espécie de polícia internacional, onde estão os criminosos mais procurados do mundo. Existe a possibilidade de ele ter ido em seu jato particular até o Paraguai, a Bolívia ou a Colômbia, por exemplo.
O criminoso também passou a figurar nas listas dos bandidos procurados pelo Ministério da Justiça e pela Polícia Civil de São Paulo.
Apesar da repercussão do caso, até quarta-feira (14) a polícia ainda não havia recebido nenhuma denúncia, mesmo anônima, sobre o possível paradeiro de André do Rap. Quem tiver informações a respeito do traficante pode ligar para o número (11) 3311-3148 e o Disque-Denúncia, pelo 181. Não é preciso se identificar.
O G1 não conseguiu localizar a defesa do procurado para comentar o assunto. Ele estava preso desde setembro de 2019, quando foi encontrado num condomínio de luxo em Angra dos Reis, litoral fluminense, numa operação da Polícia Civil de São Paulo. Naquela ocasião, foi detido por tráfico internacional de drogas após ficar quase seis anos foragido da Justiça.
Soltura do traficante
O ministro do STF Marco Aurélio Mello soltou André do Rap após atender pedido da defesa do traficante, que alegava que seu cliente estava preso desde o final do ano passado sem uma sentença condenatória definitiva por causa da prisão preventiva no estado do Rio de Janeiro. E que isso, segundo a defesa, excedia o limite de tempo previsto pela legislação brasileira.
A legislação processual brasileira mudou em 2020, com o pacote anticrime, determinando que prisões provisórias sejam revistas a cada 90 dias para verificar se há necessidade de manutenção da prisão, o que, segundo Mello, não ocorreu no caso de André do Rap.
Ele estava preso por duas condenações em segunda instância por tráfico internacional de drogas, com penas que totalizam 25 anos, nove meses e cinco dias de reclusão em regime fechado.
Mas Mello também já havia dado habeas corpus em favor de André do Rap nesses dois processos. Sendo que em um deles ainda não havia trânsito em julgado. Diante disso, o ministro entendeu que ele deveria ser solto imediatamente.
Levantamento feito pelo G1 mostra que o ministro já mandou soltar quase 80 presos usando o mesmo critério de André do Rap.
Mas com a decisão de Mello, ele deixou a Penitenciária de Presidente Venceslau, no interior paulista, pela porta da frente no sábado passado. À noite, ele já era procurado pela polícia paulista, após Fux reverter a decisão e determinar sua prisão, mas não foi localizado nos endereços que forneceu à Justiça para ser solto.
Fuga para o exterior
Para o Ministério Público (MP)de São Paulo, o traficante pode ter deixado a prisão, viajado até Maringá (PR) e embarcado para algum país da América do Sul que faz fronteira com o Brasil.
Promotores e procuradores disseram que já tinham pedido à Justiça a manutenção da prisão de André do Rap. Mas após a decisão de Mello soltá-lo, a polícia não pôde seguir os passos do traficante porque, ao sair da prisão, ele era um homem livre.
Mas, por se tratar de um criminoso perigoso, os serviços de inteligência monitoraram à distância, a movimentação dele e têm a certeza de que o traficante usou um avião particular para fugir do Brasil.
STF mantém prisão
Na quarta-feira (14), a maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal votou pela manutenção da prisão de André do Rap. Eles entenderam que não é possível soltar um criminoso considerado de alta periculosidade e que já havia fugido antes.
O promotor Lincoln Gakiya, que investiga a ação do PCC, e o delegado Fabio Pinheiro Lopes, que coordenou a operação que prendeu André do Rap em 2019, afirmaram durante a semana que será muito difícil conseguir prender o traficante novamente.
“Impossível não é, mas vai ser difícil”, afirma Gakiya, do Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público.
“Para nós foi um banho de água fria. Ele usa várias empresas de fachada, então, para conseguir capturá-lo de novo, vamos ter uma grande dificuldade. Ele é o maior atacadista de cocaína do país”, diz Pinheiro Lopes, delegado e diretor do Departamento Estadual de Homicídios e Proteção à Pessoa.
FONTE: Informações | g1.globo