“Fiquei desesperada, desconcertada. Um sentimento de angústia, de revolta”, diz mãe de criança com suspeita de ter sido dopada com tranquilizante em creche de Votuporanga 

Indício da medicação clonazepam foi encontrado no exame de sangue e urina de menino. Prefeitura de Votuporanga/SP diz que nenhum medicamento é administrado nas escolas municipais para as crianças; Polícia Civil investiga o caso e já ouviu cerca de 20 pessoas, entre parentes das crianças e funcionários da escola. 

A mãe de uma das crianças que teriam sido dopadas com tranquilizantes de tarja preta, clonozepam, em uma Creche Municipal de Votuporanga/SP diz que está revoltada com a situação. O filho dela fez um exame toxicológico que comprovou a ingestão da substância. 

“Fiquei desesperada, desconcertada. Um sentimento de angústia, de revolta, porque eu também trabalho na educação. Não dá para acreditar que isso aconteceu. Até agora eu procuro respostas, porque não dá para entender”, diz Keli Nascimento Antoniolo. 

Segundo Keli, o filho já foi internado várias vezes na Santa Casa da cidade com sonolência, vômito, olhar distante e boca torta. Uma delas foi em outubro do ano passado, quando o menino tinha apenas 11 meses de vida. 

Ela conta que ele saiu desacordado do CEMEI Prof. Valter Peresi, no bairro Vila Paes, sendo submetido a exames de sangue e de urina. Ambos apontaram a presença do clonazepam. A mãe procurou a Secretaria de Educação para fazer um relatório de queixa. 

“A primeira vez que ele desmaiou ele tinha apenas sete meses. É uma mistura de sentimento muito grande porque você entrega seu bem mais precioso e confia no profissional para acontecer isso. Meu filho fez todos os exames depois disso tudo e não tem nada. Ele é saudável.”, diz Keli. 

Ainda de acordo com a mãe, o menino foi retirado da unidade de ensino e colocado em uma outra creche de Votuporanga. Depois da mudança, a criança nunca mais apresentou os sintomas. 

“A gente espera justiça, pois não queremos que outra criança passe pela mesma coisa que nosso filho passou. A família está muito abalada. Se o culpado tivesse errado na dose hoje ele não estaria nos meus braços. Poderia ter acontecido algo muito pior”, afirma. 

Além desse caso, outra mãe que prefere não se identificar diz que o filho, aluno da mesma creche, também apresentou os mesmos sintomas quando tinha sete meses, assim que começou a frequentar o local. Ela chegou a levar a criança desacordada para o hospital. 

“Ficou um dia e meio na semi UTI e um dia no quarto. Os médicos fizeram todos os tipos de exame, tomografia, ressonância e ninguém sabia o que tinha acontecido com ele”, afirma. 

Trabalho Policial 

A Polícia Civil abriu um inquérito e suspeita que este não seja um caso isolado. Cerca de 20 pessoas, entre parentes das crianças e funcionários da escola, já prestaram depoimento na delegacia que investiga o caso. 

O inquérito já conta com mais de 100 páginas e deve ser concluído em um mês. Até agora a polícia já identificou seis crianças, alunos da mesma escola, que apresentaram quadro clínico parecido. 

Segundo o delegado Raymundo Cortizo, a investigação será ampliada para apurar as consequências dessa atitude em cada uma das crianças. 

A Polícia Civil investiga se outras crianças também teriam sido dopadas com a substância que possui efeito calmante e só pode ser usado com orientação e acompanhamento médico. 

O que diz a prefeitura 

A Prefeitura de Votuporanga disse em nota que nenhum medicamento é administrado nas escolas municipais para as crianças, com exceção daquelas que possuem receita médica e os pais mandam medicação e as instruções, como o horário e a dosagem do remédio. 

Em relação à denúncia, a prefeitura disse que a Secretaria de Educação foi procurada pelos pais de uma criança no final do ano passado e não por várias, como traz o boletim de ocorrência. 

A Secretaria relatou o caso à Procuradoria Geral do Município, mas, na época, não havia resultado de exames médicos ou qualquer outro material com embasamento legal que determinasse providências administrativas. 

Mesmo assim, a Secretaria da Educação orientou educadores, técnicos e profissionais das escolas municipais. A secretaria ainda não foi notificada quanto à abertura de inquérito. 

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