Em áudios, menina chora ao se lembrar de professora denunciada por agressão em escola: ‘tenho medo’

Boletim de ocorrência por maus-tratos foi registrado no dia 19 de março, em Cosmorama (SP). Consta no documento que a menina, diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA), foi agredida com tapa no rosto e xingada de ‘burra’ na sala de aula, durante uma atividade.

Áudios enviados ao g1 mostram a menina, de sete anos, diagnosticada com Transtorno do Espectro Autista (TEA), chorando ao lembrar da professora denunciada por agressão em uma escola municipal em Cosmorama (SP). Um boletim de ocorrência por maus-tratos foi registrado no dia 19 de março. Ao g1, a mãe afirmou que gravou os áudios de madrugada, quando a filha teria acordado de um pesadelo no qual teria revivido a violência.

A mulher denunciou à polícia que a menina, que é estudante do 3º ano do ensino fundamental, contou que foi agredida com um tapa no rosto e xingada de “burra” pela professora na sala de aula, durante uma atividade de caça-palavras.

Na gravação é possível escutar a criança dizendo que tem medo de ser novamente agredida (escute acima e veja a transcrição abaixo). Por conta do trauma, a menina desenvolveu crises de pânico ao ir para a escola, conforme a mãe.

A mãe também iniciou um acompanhamento psiquiátrico para a filha, devido aos sintomas pós-trauma. Além do TEA nível 1, a menina foi diagnosticada com Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDHA) e Transtorno de Ansiedade Generalizada, de acordo com laudos enviados ao g1.”É desse jeito que ela acorda no meio da noite após o ocorrido. Só queremos que a prefeitura, Secretaria de Educação, Conselho Tutelar e escola entendam sobre inclusão, porque o que minha filha sofreu não tem volta”, lamenta a mãe.

Investigação

Conforme o B.O., a mulher comunicou a Secretaria de Educação Municipal sobre o caso, que agendou uma reunião com a família. Na ocasião, ficou decidido pela direção que a criança trocaria de turno, além de voltar a ter acompanhamento da técnica de educação nas aulas.

Ao g1, a mãe disse que, mesmo com a documentação e laudos médicos que comprovam que a filha não pode ter contato com a agressora, a Secretaria Municipal de Educação não garante que a menina será preservada fora da sala de aula e pediu que ela deixe de frequentar a escola às quartas-feiras, quando teria aula com a professora. “Ela só vai à escola porque eu insisto, mas chega lá, fica um pouco e já pede para vir embora. Ela fala que sente dor e tem medo de apanhar de novo da professora. A pediatra diz ser um reflexo do neurológico para o físico, como se fosse um sistema de alerta”, explica.

À reportagem, a delegada responsável pelo caso, Edna Freitas, disse que ouviu a professora, que negou as agressões. Para prosseguir com a investigação, ela informou que deve ser emitido um laudo após a criança passar por uma avaliação psicossocial a pedido do Ministério Público.

Questionado, o MP afirmou que não recebeu nenhum expediente da Polícia Civil a respeito do caso e aguarda as informações para adoção das providências cabíveis.

O Conselho Tutelar também foi acionado. Questionada sobre o afastamento da docente e sobre as medidas adotadas dentro da escola “Ana Maria Segura”, a Secretaria Municipal de Educação não retornou até a última atualização desta reportagem.

Transcrição do áudio

  • Filha: eu sempre era uma menina alegre, mas agora ela sempre aparece no meu sonho e eu fico com medo. Aí eu acordo.
  • Mãe: mas você está dormindo aqui com a mamãe. Tá bom? Você não vai ficar sozinha, ela não vai bater em você.
  • Filha: mas no sonho ela me batia.
  • Filha: eu estava esquecendo, eu estava comendo o lanche e estava esquecendo de tudo, eu estava calma, mas aí, quando ela chegou, eu lembrei de tudo de novo e fiquei nervosa. Quase que eu corri para a sala, mas não corri, eu fiquei quieta. Quase que eu corri, mas eu não corri, fiquei quietinha.
  • Mãe: tá, mas por que você ficou quietinha?
  • Filha: para ela não me bater de novo.
  • Mãe: ela não pode te bater, filha. De maneira nenhuma ela pode te bater.
  • Filha: eu tenho medo de ela me bater de novo.
  • Mãe: mas a gente passar perto da casa dela não quer dizer que ela vai te bater, filha. Ela não vai por a mão em você mais. A gente não vai deixar, já foi feito boletim de ocorrência, já está lá na delegacia.

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